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Rumo ao Título de Mestre/Doutor em Ciência da Computação
Dicas de como realizar um bom curso
por Mirella M. Moro.
Participações especiais: Carina Dorneles, Daniela Musa, Vanessa Braganholo, Renata Galante, André C. Nácul, Miguel Fornari.
Observação 1: Um seminário sobre esse material foi ministrado no PPGC/UFRGS em Março 2008, os slides encontram-se aqui.
Observação 2: Essa página apresenta o rascunho inicial do conteúdo que seria posteriormente publicado nas seguintes revistas:
- M.M. Moro, V.P. Braganholo, A.C. Nácul, M.R. Fornari. The Successful Grad Student. In: IEEE Potentials, n.03, vol.24, August-September, 2005. ( PDF )
- M.M. Moro, V.P. Braganholo, A.C. Nácul, M.R. Fornari. Rumo ao Título de Doutor/Mestre. Revista de Informática Teórica e Aplicada, n.02, vol.10, Porto Alegre: Instituto de Informática, 2004. ( PDF )
Assim que o curso começar
1. Assine listas de discussões
Lista de discussões são importantes meios de comunicação. Em especial, as listas de comunidades científicas são ricas em chamadas para trabalhos (conferências, capítulos de livros…), chamada para participação em eventos, lista de trabalhos aceitos em conferências e ofertas de trabalho no meio acadêmico.
Como sugestão, apresentamos três listas:
- SBC-L: Lista da Sociedade Brasileira de Computação, maiores informações https://listas.inf.ufrgs.br/mailman/listinfo/sbc-l">aqui.
- DBWORLD: Lista de pesquisadores na área de Banco de Dados. Para se inscrever, envie um mail para majordomo@cs.wisc.edu com essa linha: subscribe dbworld.
- SEWORLD: Lista de pesquisadores na área de Engenharia de Software. Para se inscrever, envie um mail para seworld-subscribe@cs.colorado.edu com o corpo da mensagem: subscribe seworld com_seu_email_aqui end
2. Atualize seus bookmarks
Links que não podem faltar na sua lista de bookmarks:
- DBLP: biblioteca digital com trabalhos em Ciência da Computação.
- ACM Digital Library: biblioteca digital da Association for Computing Machinery.
- IEEE Xplore: biblioteca digital do Institute of Electrical and Electronics Engineers.
- CiteSeer: biblioteca digital de literatura científica.
- Google: dispensa explicações.
3. Procure conhecer seus colegas e professores
Tudo bem que o título é seu, mas um curso de mestrado/doutorado não se faz sozinho. Conhecer colegas e professores é fundamental para o seu curso assim como para a vida “após curso”.
4. Procure conhecer o trabalho do seu orientador e seus orientandos
Se informe sobre as áreas específicas de atuação com seu orientador(a) e os alunos que ele(a) orienta. É um bom começo para encontrar temas para seu futuro trabalho.
5. Tenha certeza de que consegue ler/entender um artigo (qualquer coisa escrita) em inglês
Na Ciência da Computação (assim como em outras comunidades científicas), os resultados mais importantes são escritos em inglês. Ou seja, boa parte do curso envolve leitura de publicações em inglês. Caso seu inglês não seja lá grande coisa, trate de se aperfeiçoar.
Como se faz pesquisa
Não existe receita de bolo para se fazer pesquisa, mas algumas dicas certamente ajudam.
1. Leia leia leia.
Ler o que mesmo? Tudo, absolutamente tudo, que puder:
- Inicie pelos trabalhos recentes do seu orientador (facilita a tarefa anterior).
- A partir desses trabalhos, selecione alguns trabalhos referenciados e leia também.
- Lembre-se que um aluno de doutorado deveria ler pelo menos um artigo por dia. Se não der tempo de ler tudo, se informe sobre os trabalhos aceitos na mais recente conferência e procure ler pelo menos os resumos (abstracts). O importante aqui é manter-se atualizado sobre o que está sendo pesquisado na comunidade atualmente.
2. Leia, analise, critique, discuta, implemente
Ah sim, só ler não ajuda muito não. Tente analisar o assunto que está sendo descrito. Tente identificar pontos falhos e possíveis melhorias no artigo. Discuta com seu orientador e colegas. Se for necessário, tente implementar a solução apresentada. E lembre-se: nem tudo que se publica é a verdade total e absoluta. Trabalhos falhos/incompletos também são aceitos em grandes conferências.
3. Faça anotações durante a leitura
Uma boa prática é ter o artigo impresso e fazer anotações nas margens com suas próprias críticas e observações.
Escrevendo a dissertação/tese (trabalho individual, artigo, relatório de pesquisa, ...)
Por onde começar. Caso não saiba como uma dissertação/tese se parece (não se preocupe, ninguém nasce sabendo), selecione algumas na biblioteca e dê uma olhada (de preferência, selecione algumas defendidas recentemente e sob orientação do seu orientador). Preste atenção na estruturação, divisão de capítulos, linguagem, abordagem…
Dividir para conquistar. Assim que definir o tópico da dissertação/tese, comece a trabalhar no documento final, e vá por partes:
- Se informe sobre formato que o texto deve seguir. A biblioteca tem os modelos, procure segui-los desde o início.
- Comece com as páginas obrigatórias (uma página para cada): capa, CIP, agradecimentos/dedicatória, lista de abreviaturas/siglas, lista de símbolos (se for o caso), lista de figuras, lista de tabelas, resumo, abstract, corpo do texto, referências, anexos (se for o caso). E o seu trabalho já tem pelo menos 10 páginas.
- Pense nos capítulos, na estrutura do texto. Como sugestão (isso é apenas uma sugestão):
- Introdução. Resumidamente apresente: introdução à area, motivação, problemas, atuais soluções, desvantagens dessas, sua solução (parte principal da dissertação/tese), experimentos desenvolvidos, organização do texto.
- Motivação/Apresentação. Descrição da área ou tópico de trabalho com problemas encontrados.
- Solução. A abordagem/solução do seu trabalho. É o coração do seu trabalho.
- Experimentos. Metodologia, configuração, lista dos trabalhos com os quais as sua solução é comparada, resultados, gráficos + explicação sobre os mesmos. Perguntas que podem orientar: por que os resultados são como são? alguma variável interfere nos mesmos? quais características da sua solução ajudam nos seus resultados? por que seus resultados são melhores do que os anteriores?
- Trabalhos relacionados. Descrição e comparação com a sua abordagem.
- Conclusão. Resumo da situação atual, da sua solução, principais conclusões, trabalhos futuros.
- Uma vez definidos os capítulos, comece a definir subcapítulos. Detalhe melhor a estrutura.
- À medida que define o seu trabalho, adicione conteúdo ao texto. Não precisa ser na forma final “linda e perfeita”, escreva rascunhos mesmo. O importante é que qualquer (qualquer) decisão importante tomada seja escrita em detalhes no texto à medida em que elas acontecem, porque no final das contas será muito complicado se lembrar de tudo nos mínimos detalhes. Em outras palavras, vá mantendo o texto como um “diário” no qual adiciona tudo de importante que acontece durante o desenvolvimento do seu trabalho. Depois é só ajeitar escrevendo mais formalmente.
- Importante, pode ir anotando as referências dos artigos relevantes que está lendo, assim como um resumo dos mesmos na parte do estado-da-arte do seu trabalho. Lembre-se que cópia literal não é permitida, então concentre-se em resumir as idéias relevantes.
Outras Dicas
- Comece a escrever o quanto antes possível. Tá bom, pode pensar que é precipitado já começar o texto, porém, pergunte a qualquer mestre/doutor qual é a parte mais difícil do curso, e a resposta será: “colocar tudo no papel depois de pronto”. O texto é o que fica. O texto é o mais importante contato que as pessoas terão com o seu trabalho de pesquisa. Então não deixe tudo pra última hora e comece o quanto antes possível. E acredite: muitas e muitas revisões virão antes de entregar o texto pra banca.
- Erro de português é inadmissível. Certifique-se de passar o corretor ortográfico no texto antes de entregar à banca. Uma sugestão é pedir para um ou mais colegas revisarem seu texto. Além de encontrar prováveis erros de português, eles podem sugerir como estruturar/organizar o texto para melhorar a sua compreensão. Uma revisão com profissional também pode ser aconselhada.
- Figuras e tabelas são muito úteis. Uma imagem fala mais do que mil palavras. Essa é uma verdade absoluta. Então não se acanhe e acrescente toda e qualquer figura que achar relevante para o entendimento do texto. E claro, já que é para acrescentar uma figura importante, trate de deixá-la o mais legível possível. Como dica geral, a fonte arial é uma das mais legíveis nesse caso. Tentar economizar espaço colocando figuras minúsculas pode não ser uma boa alternativa. Lembre-se também que toda e qualquer figura deve ter seu objetivo mencionado no texto. Como dica geral, tabelas podem dispensar comentários porque apresentam informação pura e crua, enquanto figuras sempre requerem alguma descrição/explicação textual.
- Conhecimento prévio necessário? Certifique-se de que o leitor pode compreender seu texto como ele está. Ou seja, não assuma que o leitor tenha conhecimento igual ao seu para ler o trabalho porque essa não é a situação sempre. Caso algum conhecimento prévio seja necessário para a leitura do seu trabalho (por exemplo: notação formal, funcionamento de autômatos, projeto de banco de dados orientado a objetos…), liste-os juntamente com referências bibliográficas para que o leitor possa buscar maiores informações.
- Cronograma. Estabeleça um cronograma (deadlines) e tente seguir. Uma boa idéia é estabelecer o cronograma do trabalho de modo que resultados estejam disponíveis a tempo de escrever artigos para as principais conferências da área.
- Tema/Assunto. A escolha do tema certamente é a decisão mais importante, pois afetará tudo o mais. Então:
- É necessário conhecer o estado da arte, para se assegurar que não se escolheu uma área já muito explorada, o que pode restringir bastante as alternativas. Ou pior, a área já estar um pouco ultrapassada. Por isso é fundamental a leitura, muita leitura.
- Uma boa dica é escolher um tema relacionado a um projeto maior do seu orientador, o que assegura uma maior interação com o grupo de pesquisa. Além disso, facilita a publicação de trabalhos conjuntos em revistas/eventos mais seletos.
- É fundamental ter certa empatia pelo tema, pois serão muitos meses/anos com ele. E sabemos muito bem que fazemos melhor o que gostamos.
- Esteja certo de conhecer bem as ferramentas fundamentais. Por exemplo, se o trabalho exigir a implementação de um sistema distribuído em Java, e você não conhecer Java, RMI, Corba e semelhantes, lembre-se que estará agregando dificuldades não relacionadas a dissertação/tese.
A vida de mestrando/doutorando
A vida de mestrando/doutorando é um pouco diferente da vida normal. Ainda vai chegar aquele dia/noite no qual tudo o que consegue pensar é a proposta, a tese, a defesa, o artigo pra revista… é isso aí! não se preocupa com a falta de assunto que não seja pesquisa… a vida é assim mesmo. Mais alguns detalhes relevantes:
- Conferências. Participar de conferências/eventos é importante! Vá ao máximo que puder… mas vá e esteja lá onde a conferência acontece, ficar na praia onde é realizado o congresso pode não ser muito produtivo.
- Cartão de visitas. Quando for a conferência, por menor que seja, tenha sempre um cartão de visita com seu e-mail (não se usa colocar endereço pessoal, e sim o da faculdade, tanto de e-mail quanto de correspondência) e endereço da sua homepage.
- Homepage.Ter uma homepage profissional em inglês também é importante. Acrescente: informações de escolaridade (grau e universidade, departamento, de preferência com links para os mesmos), orientador, título da dissertação/tese (mesmo que em desenvolvimento), trabalhos publicados, participação em projetos de pesquisa, bolsas adquiridas, prêmios recebidos (em dourado piscante ), alunos orientados (se for o caso).
- Escreva escreva escreva escreva artigos para conferências e revistas/journals. A melhor maneira de aprender a escrever artigos é lendo artigos bem escritos (de revistas e conferências de peso). E não se substime! vale à pena sim submeter para aquela conferência super-híper-mega-importante que tem um nível de aceitação minúsculo. Arrisque! no pior das hipóteses, as revisões ainda servirão pra muita coisa.
- Dúvidas. Quando estiver cheio das dúvidas, sem saber qual rumo tomar, convoque uma reunião do grupo (ou com seu orientador). Organize seus pensamentos, discuta com os colegas! E não se acanhe não, porque discutir faz parte e às vezes rende muito mais do que semanas trabalhando sozinho.
- Crise. E a dica *mais importante*: na hora da “crise”, uma conversinha com os colegas sempre ajuda: conhecer e conversar com o pessoal que está no curso há mais tempo é importante. Como assim crise? Ainda há de chegar a manhã na qual acorda e pensa: mas que diabos eu estou fazendo nesse curso mesmo? Essa é a crise! Vá a faculdade e converse com o orientador! na falta desse, converse com os colegas mais experientes, todo mundo já passou por isso! Acredite, vida de mestrando/doutorando é tudo meio parecida mesmo, principalmente as aflições.
- Orientador(a). Seu melhor parceiro durante o curso deverá ser seu orientador. Antes de tomar qualquer decisão importante, fale com ele(a) e “peça a benção” (por “decisão importante” leia-se: decisão de projeto, viagens, férias - como assim férias?, submissão de artigos, e absolutamente qualquer decisão que se refira ao seu curso). Lembre-se que seu sucesso depende dele e vice-versa. E aqui entra a maior diferença entre mestrado e doutorado.
Mestrado x Doutorado: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa
- Tamanho do trabalho. Uma tese de doutorado engloba muitas dissertações de mestrado e abre caminho para futuras teses. Uma dissertação de mestrado é uma partesinha de um todo muito maior, i.e. tem seu objetivo muito bem concentrado/limitado dentro de um projeto maior.
- Orientação. O orientador tem papel diferente. No mestrado, o orientador geralmente define o tópico e coordena todo o trabalho mais diretamente, é o diretor do roteiro. No doutorado, é o aluno que praticamente desenvolve tudo: desde a concepção do tópico até a sua conclusão. No doutorado, o orientador fornece uma segunda opinião e cuida de algumas burocracias (bolsa, participação em conferências, contratação de outros bolsistas pra lhe ajudar…), é o produtor do filme.
- Bolsistas. Falando em contratar bolsitas. Aluno de doutorado não deveria trabalhar sozinho, deveria ter pelo menos um bolsista de IC que ajudasse na programação. Sem querer ser mal compreendida, mas a parte importante da definição e estruturação do trabalho pertence ao doutorando, já a parte “meio automática” da programação pode ser passada a um bolsista programador. Isso economiza muuuuuito tempo do doutorando que pode ser gasto com a parte da pesquisa e da escrita dos resultados (seja na tese ou em artigos).
- Número/qualidade de artigos. Um bom mestrando deveria produzir pelo menos um artigo numa conferência de prestígio. Um aluno de doutorado deveria produzir pelo menos dois artigos em conferências de grande porte e um artigo em revista/journal internacional. Isso seria o mínimo necessário para deixar clara a importância/relevância da tese.
- Tempo. Por tudo isso que o doutorado requer mais tempo que o mestrado.
A Web é um banco de recursos ilimitado
Nos dias de hoje, saber usar a Web/Internet/WWW durante qualquer curso de computação é requisito básico. Desse modo, escolha uma ferramenta de procura (Google, Yahoo, ou qualquer coisa parecida) e saiba como usá-la. Por exemplo, aqui listamos outros links relacionados com os mesmos tópicos que apresentamos no decorrer dessa página, todos eles retornados pelo Google:
- How to Have a Bad Career in Research/Academia, by David A. Patterson (se tiver problema nesse link, tente essa outra cópia).
- Useful Things to Know About Ph. D. Thesis Research, por H.T. Kung
- How to Be a Good Graduate Student, por Marie desJardins
No mais...
No mais, boa sorte com seu trabalho!
Aliás, falando em sorte… já dizia Pasteur “Luck favors the prepared mind”.
Tem outra também pra hora da crise: “A pessimist sees the difficulty in every opportunity; an optimist sees the opportunity in every difficulty”: Winston Churchill, Sir (1874-1965).
Conteúdo original atualizado em 02/dezembro/2004, 5:42pm PST;
Revisado em 08/março/2008
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